Albotini, um cabalista português em Jerusalém
Rabi Yehudah (ou Judá) ben Rabbi Moshe Albotini (ou Albutini), foi Rabi em Jerusalém entre 1500 e 1520. Discípulo do famoso cabalista Abraão Abuláfia, escreveu um manual místico em que se baseava no ensino deste último: Sefer Sulam ha-Aliya, A Escada da Ascensão. Sobre ele diz Moshe Idel em Os Cabalistas da Noite: "Outro cabalista extático que recorria a uma técnica onírica era R. Yehudah Albotini, um autor de origem portuguesa activo na Jerusalém do início do século XVI. Halaquista [i.e., intérprete da lei judaica, n.t.] notável, compôs um dos mais sistemáticos manuais de cabala extática, titulado Sullam ha-'Aliyah. Ao tratar das técnicas que visam alcançar uma experiência extática, este cabalista está bem ciente que alguns perigos espreitam o praticante; propõe, por isso, que quem pretenda servir-se das técnicas que ele aprendeu no livro de Abraão Abuláfia, deve, antes de o fazer, assegurar-se de que tem permissão celeste para tal. Havia o receio de que, conhecendo os nomes divinos, alguém tentasse servir-se deles para fins mágicos ou escatológicos. A permissão celeste poderia ser obtida recorrendo à técnica já mencionada: she'elat Halom [o sonho-resposta, n.t.]." In Moshe Idel, Os Cabalistas da Noite, Pena Perfeita, 2006.
Sobre a separação entre o corpo e a alma diz o seguinte:
Sobre a separação entre o corpo e a alma diz o seguinte:
"Depois destes diversos preparativos [ascéticos], quando estás prestes a conversar com o teu Criador, liberta os teus pensamentos de toda a mundaneidade. Põe o xaile de oração, se possível põe os teus tefilim nas mãos e na cabeça, para que temas a Shekinah que está contigo nesse instante [...], senta-te e põe junto a ti tinta, uma pena e papel e começa a combinar letras a toda a velocidade e com o espírito exultante. [...] A finalidade é separar a alma [do corpo] e purificá-la de todas as formas e coisas corporais que a oprimem, despi-la para que concentres o teu coração, o teu intelecto e a tua alma sobre a forma inteligível ou sobre o conhecimento ou sobre a questão que colocaste e para a qual esperas uma resposta de Deus, bendito seja." In Charles Mopsik, Cabale et Cabalistes, Bayard, 1997, pp. 207-208.
De seguida descreve o caminho que a alma deve fazer, patamar a patamar, vendo-se na presença do Altíssimo com os seus anjos e querubins, tremendo de medo.
Tudo isto tinha uma seriedade imensa e integrava-se numa tradição que, por assim dizer, "protegia" o cabalista. Se, mesmo assim, protegido como estava e sempre acompanhado de um mestre experiente, o cabalista corria perigos imensos no seguimento das suas operações e meditações teúrgicas, pode calcular o leitor os perigos que correm hoje quantos percorrem os trilhos pretensos de uma "cabala" amansada ao jeito moderno.