sábado, 18 de julho de 2009

«Uma religião na diversidade de ritos»



M
ehmet II
"Una religio in rituum varietate" era o sonho de Nicolau de Cusa, que chega a propor, em 1453, um concílio universal em Jerusalém que procurasse o reconhecimento e o acordo de todas as confissões religiosas ("uma religião") na "diversidade de ritos".
Já, antes, Raimundo Lullio, que escreveu muitas das suas obras em árabe, afirmara que o islão é a religião mais próxima do cristianismo.
Os exemplos de inteligência universal são muitos nos tempos passados; por que esquecemos o melhor dessa época - aquilo com que verdadeiramente devemos aprender - e lembramos, repetindo, o pior? Hoje, quando se procura o "diálogo" entre religiões, está-se a partir já de um ponto de vista laico, sentindo a religião como algo inferior, algo desprovido de valor em si mesmo e que o "bom senso" dos ateus vem "salvar", apelando à "racionalidade", à "razoabilidade". Este discurso da contemporaneidade é altamente corrosivo. O diálogo entre religiões, se tem de existir, é a partir de dentro delas; quem está fora delas não pode ter a compreensão plena do que se trata e mesmo muitos dos que estão "dentro" são apenas a expressão da sua "fé", presos da crença, incapazes, por isso, de se elevar ao plano do intelecto: único "lugar" em que se podem encontrar aquelas almas como os Cusa ou os Lullio ou os Mehmet II.

Os muçulmanos de hoje podiam também lembrar-se dos seus melhores exemplos: para ficarmos na mesma época, o sultão Mehmet II, entrando em Constantinopla (1453), restaurou (note-se!) o Patriarcado Grego Ortodoxo, rodeou-se de sábios e artistas de toda a Europa, protegeu e interessou-se muito pelo cristianismo (que era a religião da sua mãe!!!) e protegeu os judeus.

E o nosso cardeal que julga que "estamos agora a começar o diálogo" inter-religioso...
A nossa tradição, o melhor dela, está no que retivemos da Andaluzia e no modo como soubemos olhar para as outras tradições; o olhar da Igreja, infelizmente, foi - e não devia! - aprisionante, levou-nos a condenar, a queimar, a estigmatizar muitos dos melhores cristãos, dos melhores judeus e dos melhores muçulmanos. Saibamos voltar a olhar por cima dos telhados: seja a partir da torre sineira da igreja, do minarete da mesquita ou daquela yeshiva que fica no piso superior de uma sinagoga. Na diversidade dos ritos, que se reconheça a adoração do mesmo Deus desconhecido.