Isaac Abravanel: uma interpretação do Quinto Império
Isaac Abravanel (1437-1508), nasceu em Lisboa e morreu em Veneza, tendo sido enterrado no cemitério judeu de Pádua. Foi homem de acção - conselheiro político de várias cortes e financeiro - e também homem de contemplação - filósofo, comentador da Bíblia e messianista. Aquele que nos importa aqui é apenas o homem de contemplação, autor de comentários à Bíblia, ao Guia dos Perplexos de Maimónides e, entre vários outros livros, autor de As Fontes da Redenção.
É neste último livro que encontramos a refutação da interpretação cristã do sonho de Nabucodonosor. O leitor está lembrado da descri ção da estátua com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e coxas de bronze, pernas de ferro e pés compostos por uma parte de ferro e outra de barro. Para Abravanel a cabeça de ouro é a Babilónia, os braços e o peito de prata são a Pérsia e a Média, o seu ventre e coxas são a Grécia, as pernas de ferro são Roma e os pés são, respectivamente, a parte de ferro os cristãos e a parte de barro os muçulmanos. O quinto império que permanecerá para sempre, é, naturalmente, interpretado como Israel. E aquela pedra que vem pulverizar a estátua, antes da instauração do quinto império, é o Decreto divino que se manifesta contra a Cristandade e o Islão
A argumentação de Isaac Abravanel, para a identificação do quinto império, é na verdade bem engenhosa: este império que permanecerá para sempre só pode ser um império de uma nação que, ao contrário de todas as outras, não detinha nenhum território próprio. Esta especificidade seria a marca essêncial de Israel.
Interpretando os quatro montros da visão de Daniel, identifica o último com Roma. Os seus pés são os reis de Roma, os dentes de ferro, os consules romanos, os dez cornos, são os imperadores romanos, o pequeno corno é o papado, porque pretende trazer uma nova ciência da Escritura que substitui a judaica e introduz elementos estranhos (Abravanel diz "monstruosos") como a Trindade e a Incarnação; por outro lado, vem ainda trazer um novo calendário, alterando o calendário judaico e pretende abolir os preceitos da Torah. Se pensarmos ainda que no Evangelho se diz que a salvação vem pelos judeus e que Cristo diz que não vem alterar um Yod ao mosaísmo e se a isto acrescentarmos que os judeus recusaram Cristo e Maomé, podemos estar seguros de que aqui se esconde um grande mistério, mas também de que a sua natureza seja outra que não a da competição por um império, mas a de uma iluminação da humanidade. Não podemos agora desenvolver este aspecto, mas S ampaio Bruno há-de ter ainda uma palavra a dizer sobre tudo isto.
A influência de Abravanel foi grande: marcou, pelas suas ideias messianistas, o Maharal de Praga; Salomão Molkho ou Molcho foi apoiado pelos descendentes de Abravanel; os doutrinadores do Sabataísmo referem-se-lhe. No século XIX há um reencontro da Europa com os seus comentários bíblicos: Mendelssohn, Samuel David Luzzatto e Meir Leib Malbim - todos se lhe referem.
Bibliografia: como é habitual temos de recorrer ao estrangeiro para as referências mais importantes aos grandes de Portugal. A bibliografia que refiro dis respeito apenas a livros em minha posse.
Roland Goetschel, Isaac Abravanel: conseiller des princes et philosophe, Albin Michel, 1996.
Isaac Abravanel, Commentaire du récit de la création, Vedier, 1999. Este livro de Abravanel traduzido para francês, ao contrário do que é costume nesta belíssima colecção da Verdier, intitulada Les Dix Paroles, não é dotada sequer de uma introdução explicativa... estranha-se o trabalho de esta magnífica tradução em contraste com a ausência de uma nota introdutória, que fica reduzi da a uma nótula da contra-capa.
Nota: quando vamos nós, os portugueses, voltar a lembrar aqueles que são nossos? Peço ao leitor que aprecie bem estes selos e tire daí as suas conclusões: o que é que não lhe soa bem? Os selos não são portugueses, pois não? Foram emitidos em 1992 para comemorar o quinto aniversário da descoberta da América. [Sim, é verdade, no selo da direita diz mesmo Issac...] O retrato é a representação tradicional de Abravanel.
A argumentação de Isaac Abravanel, para a identificação do quinto império, é na verdade bem engenhosa: este império que permanecerá para sempre só pode ser um império de uma nação que, ao contrário de todas as outras, não detinha nenhum território próprio. Esta especificidade seria a marca essêncial de Israel.
Interpretando os quatro montros da visão de Daniel, identifica o último com Roma. Os seus pés são os reis de Roma, os dentes de ferro, os consules romanos, os dez cornos, são os imperadores romanos, o pequeno corno é o papado, porque pretende trazer uma nova ciência da Escritura que substitui a judaica e introduz elementos estranhos (Abravanel diz "monstruosos") como a Trindade e a Incarnação; por outro lado, vem ainda trazer um novo calendário, alterando o calendário judaico e pretende abolir os preceitos da Torah. Se pensarmos ainda que no Evangelho se diz que a salvação vem pelos judeus e que Cristo diz que não vem alterar um Yod ao mosaísmo e se a isto acrescentarmos que os judeus recusaram Cristo e Maomé, podemos estar seguros de que aqui se esconde um grande mistério, mas também de que a sua natureza seja outra que não a da competição por um império, mas a de uma iluminação da humanidade. Não podemos agora desenvolver este aspecto, mas S ampaio Bruno há-de ter ainda uma palavra a dizer sobre tudo isto.
A influência de Abravanel foi grande: marcou, pelas suas ideias messianistas, o Maharal de Praga; Salomão Molkho ou Molcho foi apoiado pelos descendentes de Abravanel; os doutrinadores do Sabataísmo referem-se-lhe. No século XIX há um reencontro da Europa com os seus comentários bíblicos: Mendelssohn, Samuel David Luzzatto e Meir Leib Malbim - todos se lhe referem.
Bibliografia: como é habitual temos de recorrer ao estrangeiro para as referências mais importantes aos grandes de Portugal. A bibliografia que refiro dis respeito apenas a livros em minha posse.
Roland Goetschel, Isaac Abravanel: conseiller des princes et philosophe, Albin Michel, 1996.
Isaac Abravanel, Commentaire du récit de la création, Vedier, 1999. Este livro de Abravanel traduzido para francês, ao contrário do que é costume nesta belíssima colecção da Verdier, intitulada Les Dix Paroles, não é dotada sequer de uma introdução explicativa... estranha-se o trabalho de esta magnífica tradução em contraste com a ausência de uma nota introdutória, que fica reduzi da a uma nótula da contra-capa.
Nota: quando vamos nós, os portugueses, voltar a lembrar aqueles que são nossos? Peço ao leitor que aprecie bem estes selos e tire daí as suas conclusões: o que é que não lhe soa bem? Os selos não são portugueses, pois não? Foram emitidos em 1992 para comemorar o quinto aniversário da descoberta da América. [Sim, é verdade, no selo da direita diz mesmo Issac...] O retrato é a representação tradicional de Abravanel.